AS ÁRVORES ENSINAM?

Reflexão sobre a alteridade no Fedro de Platão

Autores

  • Patrícia Lucchesi Barbosa UFMG

DOI:

https://doi.org/10.46731/RELICARIO-v9n17-2022-217

Palavras-chave:

Alma. Alteridade. Psicagogia.

Resumo

No Fedro a filosofia é considerada uma psicagogia,[1] uma vez que, por meio do discurso, a alma é conduzida e afetada pelo outro. O diálogo se dá em um movimento relacional, já que se trata de um périplo a dois para além dos muros da cidade, ao mesmo tempo, o diálogo problematiza a questão do movimento autônomo da alma. Há uma tendência natural de ascensão na alma, uma vez que ela causa seu próprio movimento, assim como gerencia o movimento do corpo, contudo ela é afetada pelo poder do discurso o qual pode potencializar essa tendência ou inibi-la. A condução da alma é possível porque há, na sua própria estrutura, um princípio inteligível que a conduz, assim sendo, a autonomia da alma frente ao poder do discurso faz com que a retórica tenha suas limitações. Mas se a alma é soberana em relação aos discursos, é mister reconhecer que sua condução pressupõe alteridade; nesse sentido a autonomia da alma como causa do movimento não implica em uma autonomia radical que tornaria o outro prescindível. O diálogo exige um efetivo encontro com o outro, e é somente nessa medida que Platão o considera superior à escrita, afinal o verdadeiro discurso se escreve na alma, palavra viva e animada que pressupõe um relacionamento salutar com o outro.

Palavras-chave: Alma. Alteridade. Psicagogia.

 

 [1] O uso da palavra psykhagogía (psykhé + ago) tem inicialmente a conotação de conjurar as almas dos mortos ou de usar magia e encantamentos para guiar as almas das pessoas vivas. O verbo psykhagoo, significa inicialmente conduzir as almas para o outro mundo e, posteriormente, atrair, conquistar, fascinar e, em sentido negativo, seduzir ou iludir a alma. O verbo àgo, por sua vez, tem o sentido mais amplo de conduzir, guiar. Em um sentido literal, Platão utiliza o termo psicagogia como condução da alma.

 

Biografia do Autor

Patrícia Lucchesi Barbosa, UFMG

Doutora em Filosofia Antiga e Medieval pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.

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Publicado

2022-08-31

Edição

Seção

DOSSIÊ MÍSTICA DAS RELAÇÕES: Perspectivas de análise